Quem sou eu
- FRANCISCO ASSIS DE LIMA
- Sou um aprendiz da vida, um aluno teimoso e muitas vezes repetente como a maioria, mas, após tantas quedas e solavancos da vida, eu começo a despertar as boas potencialidades latentes em mim. É um processo longo esse, bem o sei, mas não deixarei que pensamentos, sentimentos e emoções doentias tomem o controle da minha vida. Chega de de sofrer por causa dessas escolhas equivocadas! Tudo agora vai acontecendo passo á passo. Nada de pressa nem ansiedade, as coisas não acontecem de uma hora para outra. A natureza não dá saltos. Agradeço ao criador de todas as coisas por essa mudança que começa a se processar em mim.
quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017
A velhinha do cemitério.
A velhinha do cemitério.
Na paisagem bucólica do interior de Minas Gerais onde, em muitos locais a luz elétrica demorou bastante a chegar, as lendas e estórias fantásticas eram muitas. As pessoas se reuniam e papeavam até a hora de se recolher e finalmente dormir. É parte da cultura do mineiro aprender contar esses causos que são passados de geração para geração. Tem status de verdade para muitos os conteúdos dessas anedotas.
Esse causo que vos relato agora me foi contado por meu pai. O fato em questão pode ter sido mais uma vez fruto da sua grande criatividade imaginativa. Ou talvez não, pois, no meu modo de ver, esse fato, especificamente, não é tão difícil de acontecer assim. Mas, chega de preâmbulo e vamos ao fato...
Meu pai (Sr. Abel) Contava aos filhos que ele trabalhava numa região um pouco distante da casa em que morava com sua velha mãe e os oito irmãos. Naquele lugar quase ermo, na periferia de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais não se conhecia nenhum tipo de transporte público e sequer a luz elétrica, que já havia chegado no centro da cidade tinha chegado no lugarejo.
Então, se deslocar a longas distâncias era bem complicado e ter um cavalo era privilégio para poucos, mas o jovem Abel Lima, sempre foi muito bom de perna e marchava diariamente e com tranquilidade a distância de pelo menos 8 km para chegar ao trabalho e o mesmo trajeto para voltar pra voltar pra casa.
Mais uma vez, porém, o problema não era a distância nem o caminho a percorrer, mas as estórias que se contavam sobre esse caminho. Para ser mais especifico as narrativas envolviam uma parte desse caminho. A passagem pelo cemitério são Firmino é que assustava o povo e quase ninguém se arriscava àquelas paragens quando escurecia. À noite, para se passar por ali, precisava-se de uma dose de coragem muito grande.
Boa parte do trajeto era de roça e mata e poucas casas podiam-se avistar. À noite, então, o breu era total e não se via nada. Nenhuma “alma viva” por ali. Abel voltava do trabalho por volta de sete horas da noite e tudo já estava às escuras. Só um detalhe o deixava mais em alerta: no caminho havia o tal cemitério que era um cenário bem conhecido dos contadores de estórias locais.
FALAVA-SE DA APARIÇÃO DE FANTASMAS OU OUTRAS CRIATURAS DO OUTRO MUNDO. ATÉ O “COISA RUIM”, SEGUNDO ALGUNS, JÁ TERIA DADO AS CARAS POR ALI.
O jovem Abel, porém se achava muito destemido e com o passar do tempo acabou por esquecer dessas estórias dos mais velhos. Havia seis meses que trabalhava no mesmo local, na venda do Seu Barnabé, próximo ao centro da cidade e sempre fazendo o mesmo caminho, nunca se deparou com nada nem ninguém que não fosse de carne e osso. PELO MENOS ERA ASSIM O QUE ELE PENSAVA.
Havia um mês que ele tinha a companhia de uma velhinha muito falante. Era uma senhora de aproximadamente 90 anos que se apresentou como dona Julieta e que lhe fazia, desde então, companhia durante todo trajeto sempre conversando com o jovem Abel.
Ele não sabia onde ela morava e ela simplesmente desaparecia quando se despedia dele em casa.
Um dia, ele conversava com a mãe sobre dona Julieta:
-Mãe, a senhora conhece alguma dona Julieta?
-Por essas bandas meu fio, a única dona Julieta que conheci morreu faz uns dez anos.
-Mas essa que eu conheci é uma senhora magrinha, baixinha, branquinha e muito simpática- descreveu-a ele.
-É meu fio ela é muito parecida com a Dona Julieta que conheci, mas pode ser outra pessoa. Afinar, a outra já se foi desse mundo.
Abel não ligou muito para o que lhe disse sua mãe e continuou voltando do trabalho sempre na companhia de Dona Julieta. Mas, apesar de conversarem muito, ele não sabia muita coisa sobre a senhora Julieta.
Um dia, ele conversava animadamente com dona Ju, pois ele já achava que tinha intimidade suficiente com ela e passou a chamá-la assim. Papo vai, papo vêm, nem se deram conta e já estavam próximo ao cemitério São Firmino.
Ele então a perguntou:
- Sabe dona Ju, há muitas estórias de fantasmas que teriam assombrando as pessoas aqui nas proximidades do cemitério. A senhora não tem medo de passar por aqui de noite?
A velhinha olhou para o jovem e respondeu meio lacônica:
-Oia meu fio eu já tive muito medo sim, mas agora não tenho mais não.
O jovem Abel não se deu por vencido e mandou outra pergunta:
-E por que a senhora não tem mais medo?
E cheio de si, antes que ela respondesse a pergunta anterior, manda outra todo orgulhoso:
- Não será porque a senhora está comigo que perdeu esse medo?
Sem se abalar a velhinha respondeu na maior inocência:
-OIA MEU FIO, EU TINHA MUITO MEDO DE PASSAR AQUI
QUANDO ERA VIVA, MAS AGORA EU NÃO TENHO MAIS.
O jovem e destemido Abel fazia compulsivamente o sinal da cruz e logo que parou de tremer correu como nunca em sua vida. Nem o jurafinca o fez correr tanto. Segundo os seus relatos, TERIA CORRIDO OS CINCO QUILÔMETROS DE CAMINHO QUE FALTAVAM EM APENAS CINCO MINUTOS. UM KM POR MINUTO!! ESSA FOI A VELOCIDADE MAIS INCRÍVEL QUE UM SER HUMANO PÔDE ATINGIR, ainda mais estando com as calças cheias de uma substância malcheirosa que lhe escorriam pelas pernas.
Mais uma vez chegou em casa assustando a pobre da mãe e batendo na porta com tanta violência que quase a arrombou.
Quando contou pra mãe o papo com havia tido com a finada Julieta (que afinal era a mesma que ela conhecera em vida) essa lhe deu como resposta apenas a expressão de espanto conhecida por muitos de nós mineiros:
-Crem Deus pai!!!
Francisco Lima
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