Histórias fantásticas
A cadeira de rodas
Dona Francisca era muito rigorosa com o
que considerava como educação dos filhos e netos e não aceitava qualquer desvio
de comportamento por parte daqueles. O seu sistema era o seguinte: criança só
tinha o direito de acatar tudo o que os
adultos mandassem ou ordenassem.
Caso
alguma criança se negasse a acatar uma
ordem de algum adulto da casa ou respondesse a um adulto, mesmo fora da casa, o pau comia solto e não havia discussão quanto a isso. Nos tempos
que ela era criança fora criada desse modo e não aceitava outro tipo de educação
ou família diferente da tradicionalmente conhecida.
Seu Marcelino, o marido dela, não tinha a
mesma força que ela e raramente batia nas crianças. Ficava, ao contrário, com pena delas que apanhavam em demasia da velha
Francisca ou velha megera, como falava
às vezes (e baixinho) com as crianças e mesmo com algum adulto da casa. Ele
também temia a esposa que, segundo as
más línguas, já havia batido no próprio
marido algumas vezes. Ela o chamava de frouxo e molenga, mas ele preferia não
responder às ofensas. Era avesso à violência.
Um exímio contador de histórias
Seu
Marcelino era adorado pelas crianças,
não só porque não lhes aplicava
as surras a que um adulto tinha direito, mas também por ser um exímio
contador de histórias. Todas, segundo ele, fatos verídicos acontecidos com as
pessoas mais antigas da localidade de santa Cruz de mato dentro, onde eles moravam. Ele mesmo, segundo contava, fora
testemunha de muitos desses fatos.
A história
do seu Zé caboclo é muito conhecida. Ele era um homem tido como muito ruim e
teria voltado para puxar os pés dos filhos e netos e, principalmente daqueles
que não gostavam muito dele. Relata-se
que ele perambula pelas ruas da pequena cidade de santa Cruz de mato dentro e
que puxa os pés de muita gente até hoje.
Dona
Francisca, que era muito amiga do tal Zé Caboclo, utilizava essa história para
aterrorizar os netos e dizia que também voltaria para puxar os pés de todo
mundo na casa. O medo de ela morrer e cumprir a promessa era enorme.
Anos presa na cadeira de rodas.
Dona
Francisco teve um problema de diabetes e, com o passar do tempo, teve que
amputar as duas pernas. Nesse período, que durou cerca de dez anos, ela vivia mal humorada, descontando sua ira nos netos. Era comum também ela falar
com almas de pessoas que já haviam passado pro outro lado da vida. Ela queria
partir logo e não desejava sofrer por mais tempo presa a uma cadeira de rodas.
A morte de dona Francisca
Depois de
muitos anos presa à sua cadeira de rodas, dona Francisca partiu para o mundo
dos espíritos numa tarde ensolarada de sábado. No domingo estavam todos em seu
velório e muitos, com medo da promessa feita por ela, ainda comentavam:
- Ela deve
ta no céu sô, pois nunca perdeu uma missa durante todos esses anos, disse seu
Onofre fazendo o sinal da cruz.
-É verdade,
ela cumpriu todas as suas obrigações religiosas e merece o céu, repetiu seu
Antonio.
Mas quando
todos estavam meio que distraídos à beira do rústico caixão, aconteceu um fato
inusitado na varanda anexa. Todos podiam enxergar da pequena sala onde estavam
a cadeira de rodas que dona Francisca usara até poucos dias antes. Todos,
portanto, foram testemunhas do fato incomum.
A cadeira de
rodas deu uma volta “sozinha” e completa na pequena varanda e foi um
corre-corre doido que ninguém mais ficou na casa.
O enterro
foi providenciado, mas nem a família queria comparecer no evento temendo o que
pudesse acontecer.
A casa foi
abandonada e dela só ficou a recordação
do fato assombroso acontecido naquele domingo distante.
Fala-se ate
hoje que Dona Francisca aparece volta e meia na cidade para assustar as
pessoas. As histórias sobre essa personagem são muitas e variadas às versões.
Talvez
voltemos a falar nessa personagem em outro conto. Até a próxima estória
assustadora.
Francisco
Lima
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