Quem sou eu

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Sou um aprendiz da vida, um aluno teimoso e muitas vezes repetente como a maioria, mas, após tantas quedas e solavancos da vida, eu começo a despertar as boas potencialidades latentes em mim. É um processo longo esse, bem o sei, mas não deixarei que pensamentos, sentimentos e emoções doentias tomem o controle da minha vida. Chega de de sofrer por causa dessas escolhas equivocadas! Tudo agora vai acontecendo passo á passo. Nada de pressa nem ansiedade, as coisas não acontecem de uma hora para outra. A natureza não dá saltos. Agradeço ao criador de todas as coisas por essa mudança que começa a se processar em mim.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A verdade de cada um.


A verdade de cada um.

Às vezes fico a pensar em como somos complicados e como tornamos difícil o simples ato de existir no planeta terra pela nossa incúria, orgulho, vaidade etc. Seria bem simples se todos seguíssemos um único mandamento deixado pelo mestre dos mestres: FAÇAMOS AOS OUTROS AQUILO QUE GOSTARÍAMOS QUE ELES NOS FIZESSEM.

Porém é difícil para nós, ainda muito renitentes no erro, seguir qualquer recomendação deixada pelo mestre Jesus. Isso exigiria de nós mais amadurecimento, autoconhecimento, esforço e perseverança, coisas que dão muito trabalho. Para atingir o nosso objetivo (chegar a um suposto paraíso post mortem ) ainda preferimos seguir as velhas fórmulas e terceirizar a nossa responsabilidade.

E as religiões não ajudam muito, pois elas não fazem esse papel de unir os seres humanos. Contrariamente a isso, aliás, cada uma delas criam as “suas verdades” e não aceitam o diálogo inter-religioso e nem as “verdades” vindas de outras fontes religiosas. EM RESUMO, AGIMOS QUASE TODOS COMO FARISEUS, POIS NOS ACHAMOS COM O MONOPÓLIO DE UMA VERDADE QUE NINGUÉM CONSEGUE DEFINIR. Aliás, é proibido pensar muito nisso, pois é um tema tabu e, nesse sentido é pecado refletir sobre essas coisas.

Na política também não abrimos mão do monopólio da nossa “verdade” e nosso partido sempre está com a razão. Assim, rotulamos os que não pensam como nós e os tratamos de maneira pejorativa. Em nosso Brasil, NESSA ÁREA NINGUÉM SE ENTENDE e seguimos nesse caos sem fim.

Tudo isso seria legal, pois ninguém pensa igual a ninguém. É NAS DIFERENÇAS QUE APRENDEMOS. Assim, temos as nossas muitas verdades consolidadas se opondo às outras muitas dentro de um universo que SERIA BOM E ATÉ SALUTAR SE TODOS ACEITÁSSEMOS QUE O OUTRO PENSA DIFERENTE DE NÓS. Isso, porém ainda é uma utopia.

Alias, falando em diferenças vamos pensar um pouquinho sobre um assunto que ainda é polemico em nossa sociedade hipócrita: QUE DIFERENÇA FAZ NA MINHA VIDA SE O MEU VIZINHO TRANSA COM UM HOMEM OU COM UMA MULHER? Se eu for uma pessoa normal e bem resolvida, isso não me afeta em nada. MAS, AINDA ESCONDEMOS AS NOSSAS MAZELAS (QUE SÃO MUITAS) E NOS PREOCUPAMOS COM AS ATITUDES ALHEIAS. Vemos o cisco no olho do vizinho e escondemos a trave em nossos olhos.

Em suma, não sou gay, hétero, evangélico espírita, budista, umbandista, candomblecista etc. Tudo isso é apenas uma imagem que eu passo de mim, sendo não mais que um espelho do meu ego. Ou seja, isso não é a minha essência, mas uma imagem que as pessoas têm de mim.

O QUE EU SOU DE VERDADE DEPENDE DAS MINHAS ATITUDES E DO MEU ESFORÇO POR SER UM SER UM SER HUMANO MELHOR A CADA DIA. ESSE ESFORÇO DEMANDA TEMPO E PERSISTÊNCIA E NESSE SENTIDO O BEM DA COLETIVIDADE PASSA A SER A MINHA ASPIRAÇÃO.
QUANTO ÀS RELIGIÕES, ELAS AINDA SÃO NECESSÁRIAS E EXISTEM, EM TESE, PARA RELIGAR O HOMEM AO CRIADOR E TORNÁ-LO MELHOR A CADA DIA, MAS SE TODOS JÁ AGÍSSEMOS NO BEM, NEM PRECISARÍAMOS MAIS DE RELIGIÃO.

Esperamos ver essa UNIÃO DOS SERES HUMANOS quem sabe na geração nos nossos netos, bisnetos, tataranetos, tetranetos....

Francisco Lima.

Estórias do interior: O jurafinca



Estórias do interior: O jurafinca

Quando eu era criança na minha pequena cidade natal do interior de Minas Gerais eu ouvia muitas estórias do folclore local e muitas dessas estórias versavam sobre fantasmas e seres sobrenaturais de todo tipo. Esses contos eram sempre adaptados, de acordo com as personagens que apareciam na trama. Meu pai sempre aparecia se dando bem no final. Outros personagens quando entravam na estória representando um papel similar ao dele sempre se davam mal. Mas, ainda assim ele era um exímio contador desses fatos tidos como fantásticos.

Enquanto criança eu ainda acreditava nesses contos fantásticos, mas fui crescendo e comecei a duvidar da veracidade deles. Até que um dia pude ver com esses olhos que a terra ainda há de comer que nem tudo que me foi contado eram contos fantásticos. Talvez muitos desses contos fossem reais de fato, pois acabei por me deparar com o inverossímil JURAFINCA que na minha cabeça de jovem não passava de imaginação de papai.

Meu pai contava sobre um animal, não sei posso me expressar assim. Mas o bicho parecia um animal de grandes proporções que perseguia as pessoas que cruzavam uma floresta após a meia noite. Esse bicho tinha aproximadamente uns seis ou sete metros de altura segundo as descrições dadas pelo meu pai e se assemelhava a um imenso gorila. Muitos homens que se atreveram a atravessar a tal floresta que ligava as duas cidadezinhas não voltaram mais para contar sua história. Eles teriam desaparecido sem deixar rastros ou vestígios.

As cidadezinhas de Entre folhas e Pau de folha eram ligadas por essas área de floresta de aproximadamente cinco quilômetros de extensão. Era um local completamente ermo e, à noite, a escuridão era total. Muita gente não arriscava a passar pelo local nem durante o dia, visto que o local era o principal cenário dos contos de terror dos mais velhos que já teriam visto coisas do arco da velha por aquelas paragens.

Eu estava então com 18 anos e me achava um jovem cheio de disposição e coragem. Por esse tempo eu já não acreditava nas estórias fantásticas contadas pelos mais velhos. Para mim, eram apenas contos folclóricos, tais como o do saci, da mula-sem-cabeça e muitos outros que já fazem parte do folclore brasileiro.

Nesse tempo eu morava na cidade de Pau de folha e comentava-se que haveria uma festa de casamento na cidade vizinha de Entre folhas. Muita gente da minha cidade iria ao casamento. O pessoal era conhecido nosso e eu também não perderia essa oportunidade. Todo mundo sabia que existia um caminho Pela estrada, mas que era muito mais longo. Talvez esse caminho mais longo ficasse para a volta, pois o medo de passar pela floresta altas horas da noite era por demais grande. Eu, porém não estava disposto a encarar esse longo caminho. Iria pelo atalho da floresta e voltaria são e salvo provando pra todo mundo o quanto há de fantasioso nessas estórias dos mais velhos.
Quando me preparava para sair para o casamento minha mãe ainda tentou me alertar:
-Fio, não vá pela floresta sozinho que o caminho tá perigoso demais. O JURAFINCA anda aparecendo muito por esses dias. O fio do seu Zé Marçal despareceu na floresta há um mês e ninguém teve mais noticia dele. Vai junto com o povo e não se arrisque sem necessidade.

-Que nada mãe! Isso é coisa de gente ignorante! O Jurafinca é um folclore e não existe de verdade.

- Ele há de aparecê procê e ocê nunca mais vai duvidar dos mais véio.

-Boa noite mãe.

Saí de casa aborrecido com a praga rogada pela minha mãe. Dizem que praga de mãe é forte e dificilmente não se concretiza. Mas isso é coisa de gente roceira, ignorante.

Fomos todos pelo atalho da floresta, pois ainda não havia escurecido e o aspecto daquele lugar sombrio em nossa imaginação ainda não era tão assustador assim. Passamos pela floresta sem qualquer incidente digno de nota, chegamos todos animados ao casamento, mesmo depois de uma longa caminhada de cinco quilômetros.

A festa foi ótima, especialmente para mim que acabei arrumando uma namoradinha por lá. Uma menina de apenas 15 anos arrebatou meu coração. Agora eu teria motivos de sobra para atravessar a floresta muitas vezes mais. Mas o povo estava preocupado em como voltaria pra casa, visto que o tempo havia passado e já eram quase dez horas da noite. Muito tarde para quem precisava encarar uma maratona a pé, já que passar pela floresta àquela hora nem pensar. Mais o povo teve que voltar pra casa e pegaram o caminho mais longo. Mais de dez quilômetros de caminhada firme.

Eu, porém resolvi voltar pela floresta. Ainda chamei alguns homens, alguns colegas meus, mas ninguém topou. Encarar a floresta naquela hora avançada era algo muito perigoso na cabeça daquela gente medrosa. Mesmo com um pouco de medo, não arredei pé e fui fundo floresta adentro. Quando já estava chegando no meio do caminho comecei a pensar nas histórias do meu pai. Era ali que tudo acontecia. Os latidos dos cachorros já eram visíveis e davam a impressão de que algo estava acontecendo. Eu não tive muito tempo de pensar na situação. Quando dei por mim, lá estava ele muito próximo. Era um bicho enorme, peludo e que me olhava furioso. NUNCA TINHA VISTO ALGO PARECIDO E NEM IMAGINAVA EXISTIR UMA CRIATURA TÃO MONSTRUOSA.

Para salvar a minha pele, nunca corri tanto na minha vida e só não fui pego pelo monstro porque me escondi algumas vezes entre as árvores e arbustos. Por ali eu ficava minutos, que pareciam séculos, guardando completo silencio apesar do imenso medo. As calças já estavam cheias, pois não consegui me segurar e me defequei todo. O coração batia tão forte que parecia que ia saltar pela boca.

Pensava em permanecer no meu esconderijo até o dia amanhecer, mas o fedor que saia do meu corpo era grande demais para eu suportar. Consegui despistar o monstro a achei um pequeno atalho, uma trilha onde ele não conseguiria passar. Ganhei no mínimo uns duzentos metros de vantagem e segui adiante. Quando ele me avistou eu já estava bem adiantado e consegui correr até chegar próximo a outro esconderijo, pois o bicho corria muito.

E assim, usando um pouco de inteligência e mudando sempre de esconderijo consegui chegar em casa. Absolutamente morto de cansaço pulei a cerca da minha casa gritando pela minha mãe e de tanto medo arrombei a porta antes que ela a abrisse. Minha mãe viu o espectro do monstro e pôs-se a rezar e a se benzer até que o bicho se afastou milagrosamente da nossa casa, como que por encanto ou mesmo pela ação potente da sua reza tida como forte.

Depois desse dia, continuei namorando a menina da cidade vizinha, mas não tive mais coragem de passar pela floresta. Isso virou um trauma que eu jamais superei.

Aprendi bastante com esse fato, principalmente a respeitar a opinião dos mais velhos. Respeitar suas crenças e valores e a não considerar como lendas os fatos narrados por eles. Para mim, tudo agora é verdade até prova em contrário.

Francisco Lima