Ser ou não ser e as tramas políticas de um País chamado Babilônia.
Num País chamado Babilônia não muito distante daqui houve um tempo em que vivia-se crises sem precedentes históricos. Crises dos mais diversos matizes: moral, econômica, social, espiritual, enfim o povo estava perdido e sem leme e isso acabava levando também a uma instabilidade social o que poderia impactar nos já elevados índices de violência.
A elite e a “boa sociedade” viviam inconformadas, pois o pequeno País, vivia os ares de uma dita democracia incipiente e, como nação democrática, não desempenhou bem o seu papel, pois acabou elegendo uma presidenta não alinhada aos interesses dessa elite. Eleger uma mulher e ainda por cima uma pessoa contrária aos interesses dos donos do País não dava para aceitar.
Das rodas de conversas da boa sociedade participavam políticos oriundos dessa elite, empresários e até correspondes de outros países aliados, que tinham grandes interesses nas terras babilônicas. Esse era o grupo dos afortunados babilônicos.
Para a imprensa conservadora Laércio Maisena era o homem do povo (branco e rico) que disputou as eleições com a mulher usurpadora que o acabou vencendo mesmo contra todos os prognósticos. Ele, porém, não se conformava com a derrota. Laércio Maisena era de uma família rica, dona de vastas extensões de terra. Eles transportavam em helicópteros o pozinho branco produzido nas fazendas do seu avó, maior produtor de maisena do País.
Em conversa com os seus aliados ele comentava inconformado:
Em conversa com os seus aliados ele comentava inconformado:
-Essa mulher não pode governar contra os nossos interesses. Temos que articular a sua queda e para isso já temos o apoio da maior rede de TV do País, a rede universo.
Tomou então a palavra o político José Montanha, um cara careca, muito mal humorado, mais um grande aliado de Maisena:
-Com esse apoio da imprensa não será tão difícil conseguirmos o nosso intento. Já temos também o apoio de juízes, senadores e maioria dos deputados estão a favor da nossa causa.
A conversa prosseguiu:
-É um absurdo isso, esse povo ignorante não deveria ter direito a voto. Temos que restringir esse direito atalhou o juiz Sérgio Reside, um aliado incondicional dos políticos da elite.
Eles ainda conversaram durante um bom tempo tramando a queda da odiada mulher, mas resumindo a história: Depois de vários conluios, o país foi ludibriado pela propaganda midiática e os personagens acima conseguiram derrubar dona Vilma Ignácio do poder.
A personagem em questão era tida como aliada do povo e tinha o agravante de manter uma postura muito rígida com os corruptos, coisa que desagradava a quase totalidade dos políticos de Babilônia.
Velhos conhecidos surgem como novos personagens nessa história macabra.
O tiro saiu pela culatra, no entanto, pois o político que substituiu dona Vilma no poder não conseguiu tirar o País da crise. Muito pelo contrário, ainda as agravou mais. E as máscaras dos políticos que derrubaram dona Vilma foram caindo pouco a pouco. O descrédito foi total.
Nesse cenário caótico, o povo clamava por um salvador que lhes propiciasse o socorro diante do caos. Um discurso moralista e quiçá milenarista cairia bem nesse momento. Na falta de novos lideres reconstrói-se a imagem de um caricato político, ultraconservador, assumidamente misógino e homofóbico entre outros adjetivos nada lisonjeiros. Esse cara, porém, tinha o discurso moralista que o povo (geralmente sem muita leitura) adorava ouvir.
A trajetória de um boçal
Conhecido apenas como boçal por alguns em função do seu nome diferente o deputado Jairo Boçal Canário é uma figura controvertida. Já acumulava vários mandatos como deputado e curiosamente tem pouquíssimos (na verdade quase nenhum) projeto de sua autoria aprovado na câmara dos deputados de Babilônia.
O deputado Boçal tem ódio de homossexuais, de mulheres, de negros e é um fã incondicional de Adolf Hitler (apesar de não poder expressar isso claramente). O principal alvo, no entanto, são os homossexuais que, no seu modo de ver, estão pervertendo as famílias babilônicas.
O deputado, porém tem algumas histórias que o seu público conservador ainda não conhece. Os conteúdos inconscientes (e persistentes) podem atrapalhar as pretensões do Sr. Boçal.
de chegar presidência do pequeno País.
de chegar presidência do pequeno País.
O ódio que o deputado Boçal tem dos gays é uma projeção do seu inconsciente. Ele talvez não saiba o que é isso, mas mesmo assim não deixa de sê-lo. Mas os sonhos libidinosos nunca abandonaram o senhor Boçal. Um analista outrora amigo do deputado “quebrou o segredo da confissão” e resolveu falar tudo o que o seu ilustre amigo lhe contava nas sessões de analise.
Talvez não seja muito honesto expor a vida alheia desse modo, mas vou fazer isso a titulo de esclarecimento, levando essa informação para quem ignora o fato. Um analista também não pode expor a vida dos seus pacientes, mas isso aconteceu. Vou falar um pouco desse analista.
Eu mesmo já fiz algumas como sessões de analise com esse senhor muito simpático e pouco ético. o Sr.... Vamos chamá-lo de Carlos Gustavo me fez declarações bombásticas sobre o deputado Boçal. Vou narrar agora tudo o que ele me disse. Esse analista já está bem velhinho, mas ainda trabalha e talvez por causa da velhice resolveu contar algumas das suas experiências. Vamos a conversa que tive com ele.
Um dia eu passava próximo ao seu consultório e por uma dessas sortes do destino o encontrei sozinho tomando um chope num bar. Ele me convidou a acompanhá-lo e eu aceitei de pronto e foi então que ficamos conversando por longas horas. O psicanalista ficou meio embriagado e a conversa fluiu muito mais a vontade. Entramos na política e eu falei das idéias do deputado Boçal e ele, colocando aquelas ressalvas para não contar para ninguém, começou a falar das sessões que fez com o deputado quando jovem e dos pormenores da vida do eminente Boçal.
-Quando jovem (vinte e poucos anos mais ou menos) o deputado fez muitas sessões de analise comigo e havia épocas em que ele chegava ao consultório aos prantos e então começava me narrar os sonhos que tivera durante à noite.
-Mas que tipo de sonhos? Perguntei ingenuamente. Ele então me explicou:
-Eram sonhos de conteúdo sexual e ele não se conformava com o papel que representava nesses sonhos.
-Como assim? Perguntei.
-Ele, que se considerava muito machão, aparecia nesses sonhos sendo possuído por outros homens. E adorava isso nos sonhos, mas chorava muito ao acordar.
-E o que senhor fez?
-A principio nada, deixava que ele falasse sem ser interrompido e não me cabia dar nenhuma solução. Isso durou muitas e muitas de sessões.
-Quando foi que a situação mudou?
-Quando ele chegou um certo dia, no auge do desespero, me pedindo uma solução urgente para que aqueles sonhos parassem de acontecer.
-E o senhor? O que disse?
-Disse a ele que o problema estava dentro dele mesmo, que aqueles conteúdos estavam no seu inconsciente e que representavam uma parte da sua essência como ser.
-E ele? Como reagiu?
-Ficou agressivo, me chamou de louco e nunca mais voltou ao
meu consultório.
meu consultório.
Conversamos ainda por mais algum tempo até que nos despedimos os dois embriagados. O conteúdo daquela conversa, porém ficou para sempre na minha memória.
Analisando o que psicanalista me disse e pelo que se vê nesse momento, o deputado Boçal Canário, que ainda hoje posa de machão não encontrou coragem suficiente para trabalhar sua porção mulher que grita forte e desesperada dentro dele. Talvez por isso tenha tanto ódio das mulheres e principalmente dos homossexuais. Coitadinho. Dá pena dele.
Um dia, porém, acredito eu, ele amadurece, sai do armário e talvez se torne um ser humano melhor.
A esperança é a última que morre.
Francisco Lima
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