Juraci era um indiozinho lindo que vivia com seu grande familiar na aldeia Tucuman. Aos cinco de idade já havia aprendido muito mais que as demais crianças em idade semelhante. Já tinha noções de caça, sabia pescar e fazia muitas perguntas difíceis de responder ao cacique e até o velho xamã era crivado de questões filosóficas infantis a todo instante.
A curiosidade era a principal característica daquele serzinho que nunca cessava sua sede de saber. Conhecia toda a história da criação, segundo a cultura da sua tribo, mas sempre criava novos questionamentos em sua cabecinha.
Os Tucuman não viviam isolados e, frequentemente, recebiam visitas de médicos e religiosos que se diziam missionários. Estes estavam sempre com intenção de converter os indígenas à sua religião e sequer queriam saber como era a cultura dos Tucuman.
Aprenderam um pouco da língua e conseguiam se comunicar, mas não tinham intenção de conhecer melhor a cultura, a religião e os costumes daquele povo chamado por eles de "selvagem". Achavam que converter aqueles povos à sua religião e à sua cultura era a maior caridade que podiam fazer.
E Juraci tinha muito interesse em conhecer o modo de vida daqueles "povos diferentes" e havia aprendido a se comunicar com eles também. Não era tímido e perguntava frequentemente:
- Por que vocês usam tantas roupas ? A resposta era sempre a mesma.
- Porque nós somos civilizados. Temos uma cultura superior.
E Juraci não entendia direito o que eles queriam dizer como superior. Ele já entendia o significado do conceito, mas não entendia a referencia.
- Superior a quem ? Muitas vezes perguntou, mas os "missionários" sempre diziam a ele:
- Talvez um dia você compreenda.
Havia um casal no grupo de religiosos que não conseguia ter filhos e José, o marido, era avesso à ideia da adoção. Não aceitaria um filho que não fosse do seu sangue. O casamento já durava nove anos, mas Ana tinha um problema orgânico que a impossibilitava de gerar um filho.
Os trabalhos junto às aldeias eram até um alivio para Ana que não aguentava mais as cobranças da sogra e do marido, como se ela fosse culpada por um problema em seu organismo. Sentia que seu casamento estava por um fio e, intimamente, queria adotar uma criança, mas o marido não aceitava nem discutir a ideia.
Eles gostavam muito do menino Juraci e passou uma ideia pela cabeça de Ana que, incialmente, parecia loucura, mas foi ganhando corpo pouco á pouco. E o menino já estava com oito anos quando Ana, finalmente, teve coragem de falar marido:
- E se a gente levasse o Juraci para morar um tempo conosco ? José até gostava do menino, achava-o muito inteligente, mas levar um selvagem para sua casa estava fora de cogitação.
- Você enlouqueceu Ana ? Onde já se viu? Levar um selvagem para a nossa casa ? Acho que minha mãe tem razão. Você não anda bem da cabeça.
Ana e José tiveram uma crise mais aguda e acabaram se separando. Ele teve dois filhos com outra mulher vinte anos mais jovem que ele. Mas, anos depois, queria voltar para Ana. E junto com ele, levou os filhos: Uma menina de quatro anos e um menino de dois.
Ana o aceitou de volta e adotou os filhos dele. Cinco anos se passaram, período em que José se afastara da igreja e nunca mais havia visitado a aldeia. Ana continuava a faze-lo e seus laços com menino Juraci só se estreitaram. Ele já era um adolescente de 15 anos e tinham uma inteligência brilhante. Era um grande guerreiro, adorava a vida na aldeia, mas, gostava muito de leitura.
Havia aprendido a língua e a cultura dos "missionários" e também aprendeu a ler e escrever com a ajuda deles. Devorava todos os livros que Ana levava para ele e sempre pedia mais. Lia sobre os mais diversos assuntos.
A "adoção"
Um dia, Ana estava de volta à aldeia e fez um pedido especial a José:
- Eu gostaria de pedir à família de Juraci levá-lo conosco . É só por uns tempos. Contrariado José retrucou:
- Eu continuo não gostando dessa ideia. Mas Ana foi enfática:
- Só estou lhe comunicando um fato. O menino já aceita a ideia há anos. Eu adotei os seus filhos sem impor condições. Você sabe que sempre amei esse menino.
José teve que aceitar a ideia, pois não estava em condições de impor sua vontade como sempre fizera. Mas, jamais iria aceitar aquele "selvagem" como seu filho.
Naquele mesmo dia, Ana levou Juraci para morar com ela e sua família. Queria fazer uma boa ação até porque amava o menino. Porém, será que o menino se adaptaria bem a vida longe da natureza, dos animais e da sabedoria milenar que só podia encontrar em meio ao seu povo ?
Só o tempo nos dará essa resposta.
continuarei essa história amanhã.
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